Dá para dizer que o Leão do Vale ainda é filhote, mas já assustou um gigante. Com oito anos de existência, o Cianorte tem, pelo menos, uma grande história para contar. A equipe, que acabou de conseguir avançar às oitavas de final na Série D, se transformou em celebridade quando surpreendeu o Brasil vencendo por 3 a 0 o poderoso Timão deTevez, Mascherano, Roger, Carlos Alberto & Cia., na Copa do Brasil de 2005, deixando louca a torcida da pequena cidade de quase 70 mil habitantes.
Em 9 de março daquele ano, o Leão do Vale se tornou uma “celebridade instantânea”, quando, com apenas dois anos, disputava a sua primeira competição nacional. Na primeira fase passou pelo Cene (MS), e logo na próxima "esquina" encontrou o Corinthians, que estreava um elenco sob o comando do argentino Daniel Passarela. Chamado de "time de costureiros", pelo fato de a cidade ser considerada a capital do vestuário, o Cianorte entrou mordido com a brincadeira e venceu a primeira partida por 3 a 0. Depois, acabou eliminado no jogo de volta por 5 a 1, mas se orgulha do momento de "alta-costura" nos gramados.
Seis anos se passaram do Cianorte que aprontou com o Timão para os tempos atuais. Nem só de passado vive o clube, que comemorou no último fim de semana a classificação para a segunda fase do Brasileirão da Série D. A equipe joga a primeira partida neste domingo, em Cianorte, contra o Oeste Paulista, pelas oitavas de final. Resultado que a diretoria entende como o desdobramento de um trabalho organizado e iniciado no Campeonato Paranaense, quando o time foi campeão do interior.
- Entendo que a boa fase do Cianorte está associada à administração profissional do clube e também à manutenção do plantel - explicou o atual diretor do clube, Adir Kist. Em 2005, ele era o goleiro e um dos destaques daquele time que aprontou para cima do Timão.
Agora, da melhor equipe do interior paranaense, o Leão conseguiu manter a maior parte, perdendo apenas o atacante Giancarlo e o zagueiro Brinner. Os dois foram para o Paraná Clube disputar a Série B do Brasileirão. Entre os substitutos, Willians já é o artilheiro da equipe, com quatro gols, e um novo líder se destaca com a camisa 10: o meia Felipe Pinto, considerado o organizador do time dentro de campo. Pelo Grupo A8, o Cianorte terminou em segundo lugar, com 14 pontos ganhos. Foram quatro vitórias, dois empates e duas derrotas.
Os planos do Cianorte não param na Série D. A diretoria acredita ser possível o acesso para a Série C em 2012 e, de lá, projetar em dois anos um novo acesso para chegar à Série B e figurar entre os principais times do país.
- Nossas metas são a longo prazo e, passo a passo, vamos obter os êxitos.
Time de costureiros?
Certamente, aquele feito de 2005 é usado para servir de inspiração. Adir Kist conta que nenhum integrante na época esperava um resultado tão elástico no primeiro jogo. Enquanto toda a expectativa nacional era de que o Corinthians se classificasse na primeira partida (segundo a regra do campeonato, o time visitante que vence por dois gols de diferença elimina o jogo de volta), o Leão do Vale, além de obrigar a partida em São Paulo, preocupou o Timão, que precisava inverter uma vantagem de três gols, fato inédito até então na Copa do Brasil.
Kist conta que o menosprezo, tanto por parte do Corinthians como da crítica nacional, ajudou a motivar o elenco cianortense. Como a cidade de Cianorte é conhecida como a capital do vestuário, por ser um dos maiores centros atacadistas do Brasil, Adir lembrou que o elenco ficou bastante chateado com as brincadeiras ouvidas país afora de que o time era formado por costureiros. Isso serviu como combustível para a equipe.
- Lógico que tivemos méritos, mas houve um pouco de subestimação por parte do Corintihians. Ouvimos comentários dizendo que o Cianorte era um time de costureiros, de cidade pequena. Não procuraram saber sobre o nosso futebol.
Kist lembrou que, quando o Cianorte abriu o placar, sentiu o adversário pouco preocupado. Achava que, pela superioridade técnica, poderia mudar o resultado a qualquer momento.
- Só quando perceberam que já estava três a zero tentaram correr atrás e se desesperaram, pois a nossa equipe marcava muito bem e não deu espaço para o bom time deles.
2ª fase: da Rua Augusta ao indigno rótulo de ‘vacilão’
Hoje em dia, como diretor de futebol, Adir Kist revela que mudaria muitas coisas na organização e logística do clube. Sem muitos recursos, a delegação não passou por bons momentos na capital paulista. Primeiro pela pressão e rivalidade exagerada criada pelos fiéis corintianos, que colocaram o adversário paranaense no mesmo nível de rivais como São Paulo e Palmeiras.
Segundo, pela falta de recursos que não permitiu dar um conforto ideal para os jogadores e comissão técnica. Kist lembra que o Cianorte ficou hospedado num hotel da Rua Augusta, exposto ao movimento diversificado do tradicional point paulista e sem organização na entrada.
A única coisa que não aceito, e que o Cianorte não merece, é o rótulo de que “entregou a partida” para o Corinthians "
Adir Kist
diretor de futebol do Cianorte
diretor de futebol do Cianorte
- Ficamos muito expostos. A imprensa fazia plantão no saguão do hotel, torcedores pressionavam. Na hora de ir para o estádio, o ônibus que contratamos não chegou e dividiram os atletas em vans. Alguns membros da comissão foram de táxi – reclamou o ex-goleiro, afirmando que o clube aprendeu muito com aquele episódio.
Por outro lado, “o sangue já tinha baixado” da vitória do primeiro jogo, até mesmo pelo grande intervalo entre as duas partidas: quase um mês depois.
- Passaram trinta dias do resultado daqui (no Paraná). A situação era diferente, o embalo da vitória já tinha passado. Foi difícil para a equipe suportar a pressão. A gente queria passar de fase, mas faltou experiência.
Como remanescente daquela equipe histórica, Adir declara que fica ressentido cada vez que ouve boatos de que o Cianorte “entregou” ou “vendeu” o jogo de volta.
- Mesmo não passando de fase, nós temos um grande orgulho daquela partida. A única coisa que não aceito e que o Cianorte não merece é o rótulo de que “entregou a partida” para o Corinthians, através de uma combinação. Nós lutamos, mas faltou mais experiência para a gente administrar o resultado a favor.
Caio Júnior: cria do Cianorte
Quem comandava o recém-criado Cianorte do duelo com o Timão era Caio Júnior, atual técnico do Botafogo. Proveniente de Cascavel, o paranaense começou a sua carreira no Paraná Clube, em 2000, mas organizou o Leão do Vale de 2005, conquistando o título de “campeão do interior paranaense”, que deu direito a uma vaga na Copa do Brasil.
O carinho de Caio Júnior pelo clube do noroeste paranaense continua até os dias atuais. A prova foi dada no início deste ano. Mesmo comandando o Al-Gharafa, no Qatar, ele acompanhava o Cianorte e postou em seu twitter uma mensagem de apoio pela liderança momentânea do Campeonato Paranaense deste ano:
- Parabéns ao Cianorte pela liderança no Campeonato Paranaense. Clube sério e organizado – postou no dia 5 de fevereiro.
Elza, a torcedora oficial do Cianorte
Com 74 anos recém-completados esta semana, dona Elza Bento Ramos é uma "figurinha carimbada" no clube. Todos a conhecem e a respeitam. A cada jogo do Leão do Vale em casa, a sua presença nos vestiários antes de começar a partida é uma espécie de talismã, que pelo menos na Série D está dando resultados.
- Por toda vida eu gostei de futebol. Conheço boa parte dos jogadores desde crianças e aprendi a ter um amor pelo clube e pelas pessoas - afirmou a fanática torcedora.
O conhecimento dela sobre o Cianorte é invejável. Conhece cada um dos atletas da base e acompanha o crescimento profissional dos pupilos.
- Sempre estou acompanhando o que acontece no Leãozinho (base do Cianorte). Vejo e dou carinho para vários jogadores desde que chegaram aqui no clube - disse Elza, listando Marcinho, Fabinho, Fernando e Danilo, que atua no Londrina.
Atualmente, a principal preocupação é com o jovem goleiro Marcelo, que se lesionou em um jogo-treino com o Cambé e perdeu a posição de titular para o veterano Colombo.
- O Marcelo é um goleiraço, está machucado. Mas tenho um carinho especial por todos eles.
A assídua frequentadora do estádio Albino Turbay afirmou que todos no clube, de tão acostumados à sua frequente presença, estranham quando não está por lá.
- Quando eu não vou ao jogo, já se preocupam comigo, imaginando que estou doente ou com algum problema.
Confiante no sucesso do clube do Noroeste paranaense, dona Elza acredita que a próxima conquista do Cianorte será chegar à Série C, em 2012.
Uma curta história do Cianorte
O Cianorte é mais um clube de empresários do futebol brasileiro. Marco Franzato é dono de uma marca de roupas, sediada na cidade, e fundou o novo time em 2002, resgatando a tradicional equipe, extinta em 1993.
A ascensão do Leão do Vale foi rápida. Com um ano de existência, o Cianorte subiu para a elite do futebol paranaense e, em 2003, já conquistou o título de campeão do interior, após terminar o Paranaense em terceiro lugar, atrás do campeão Coritiba e do vice Atlético-PR.

Com o feito, conquistou a oportunidade de disputar a Copa do Brasil de 2005, quando conseguiu o memorável resultado de 3 a 0 sobre o Corinthians.
Desde 2003, o Cianorte jamais caiu da Primeira Divisão do estado. Alternando bons e médios resultados, neste ano conquistou, novamente, o título do interior (veja o vídeo ao lado). De leva, granhou o direito de disputar a Série D do Brasileirão.
A corrrente antes dos jogos, prática comum do time do Cianorte (Foto: Andye Iore/site oficial do Cianorte)
Time do interior paranaense já está nas oitavas da
Corinthians de Tevez & Cia. levou susto do Cianorte em 2005 na Copa do Brasil (Foto: Gazeta Press)
Adir Kist, gerente de futebol do Cianorte, foi o goleiro
Diretoria acha que com elenco atual time consegue passar para Série C (Foto: Divulgação / Cianorte)
Antes de cada jogo, dona Elza visita os atletas no
Campanha na primeira fase da Série D foi boa para o Cianorte, que terminou em segundo do Grupo A8, com, 14 pontos - quatro vitórias, dois empates e duas derrotas (Foto: Andye Iore/site oficial do Cianorte)
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